A vida cotidiana, esta vida de todos os dias e de todos os homens, é percebida e apresentada diversamente nas suas múltiplas cores e faces: a vida dos gestos, relações e atividades rotineiras de todos os dias; um mundo de alienação; um espaço do banal, da rotina e da mediocridade; o espaço privado de cada um, rico em ambivalências, tragicidades, sonhos, ilusões; um modo de existência social fictício/real, abstrato/concreto, heterogênio/homogênio, fragmentário/hierárquico; a possibilidade ilimitada de consumo sempre renovável; o micromundo social que contém ameaças e, portanto, carente de controle e programação política e econômica; um espaço de resistência e possibilidade transformadora. A vida cotidiana também é vista como um espaço onde o acaso, o inesperado, o prazer profundo de repente descoberto num dia qualquer, eleva os homens desta cotidianidade, retomando a ela de forma modificada. Todos os estudos sobre a vida cotidiana indicam a complexidade, contrariedade e ambigüidade de seu conteúdo. E o que é mais importante, a vida de todos os dias não pode ser recusada ou negada como fonte de conhecimento e prática social. É nesta relação – prática social e vida cotidiana – que está a origem motivacional de nosso sentido.
Esta reflexão contém uma síntese dos elementos que comportam esta totalidade humana chamada vida cotidiana em relação à totalidade mais ampla: o mundo moderno capitalista. A vida cotidiana faz algum tempo, é, sobretudo, o centro de atenção do Estado e da produção capitalista de bens de consumo. “O que é que escapa ao Estado? O insignificante, as minúsculas decisões nas quais se encontra e experimenta a liberdade (...). Se é verdadeiro que o Estado deixa fora apenas o insignificante, é igualmente verdadeiro que o edifício político-burocrático sempre tem fissuras, vãos e intervalos. De um lado, atividade administrativa se dedica a tapar esses buracos, deixando cada vez menos esperança e possibilidades no que podemos chamar de liberdade intersticial. De outro lado, o indivíduo procura alargar estas fissuras e passar pelos vãos”. (Lefebvre, 1981, III: 126-7). É assim que o Estado moderno assume o papel de gestor da sociedade. Esta gestão repousa sobre o cotidiano, tem por base a continuidade. Para a produção capitalista de bens de consumo, também o cotidiano é um centro de atenção, uma base de rentabilidade econômica inesgotável. Técnicas publicitárias, as mais sofisticadas, introduzem na vida cotidiana o fabuloso progresso das máquinas e utensílios domésticos, capazes de transformar radicalmente a paisagem da vida cotidiana, seja dos ricos, seja dos pobres. Através dos meios de comunicação, tais máquinas e utensílios (a televisão, o aparelho de som, o forno de microondas, o videocassete, o microcomputador, o automóvel, os instrumentos de “bricolagem”, os cremes de beleza, os congelados, etc...) se apresentam como sedução permanente ao prático, ao pragmático, ao mágico, ilusório. Consumi-los torna-se imperativo da era tecnológica moderna e condicionante ao chamado homem atual.
As máquinas também adentram os espaços coletivos (praças, estações de metrô, instituições, empresas, etc...), substituindo os pequenos vendedores de sanduíche, café, cigarro, chocolate, etc... A máquina vende estes produtos, eliminando não só a mão-de-obra humana, mas igualmente muitas das rotineiras relações humanas face a face, de todos os dias. Toda receita pode ser encontrada no mercado para “curar” qualquer mal existente ou material do cotidiano.E assim de forma natural, vamos nos adaptando a essas novas mudanças e percepções da vida cotidiana, assistindo sistematicamente essas transformações na sociedade, inertes a todo efeito que elas podem causar na nossa vida de todos os dias.
. O corpo, por exemplo, a partir de sua mais refinada exploração comercial, é seduzido por uma rede de produtos altamente sofisticados, desde os estéticos até os sensuais e eróticos, acompanhados sempre de receitas, experiências e valores capazes de atender todas as buscas de satisfação e insatisfação no cotidiano. Vista sob certo ângulo, a vida cotidiana é em si o espaço modelado (pelo Estado e pela produção capitalista) para erigir o homem em robô: um robô capaz de consumismo dócil e voraz, de eficiência produtiva e que abdicou de sua condição de sujeito, cidadão, humano.
É assim que a vida cotidiana é, para o Estado e para as forças capitalistas, fonte de exploração e espaço a ser controlado, organizado e programado. Também buscamos observar a vida cotidiana em si mesma:
o que é vida cotidiana. A vida cotidiana é aquela vida dos mesmos gestos, ritos e ritmos de todos os dias: é levantar nas horas certas, dar conta das atividades caseiras, ir para o trabalho, para a escola, para a igreja, cuidar das crianças, fazer o café da manhã, etc... Nessas atividades,
é mais o gesto mecânico e automatizado que as dirige que a consciência. Mesmo os sonhos e desejos construídos dia a dia, no silêncio e no devaneio, não representam um ato de consciência.
O jogo dos sonhos e atividades rotineiras produz insatisfações, angústias, opressão, mas também segurança. Raras são as pessoas que não se deixam intoxicar por esse cotidiano.
Raras são as pessoas que o rompem ou o suspendem, concentrando todas as suas forças em atividades que as elevem deste mesmo cotidiano e lhes permitam a sensação e a consciência do ser homem total, em plena relação com o humano e a humanidade de seu tempo,
livre de influências.
Texto Bíblico: 1 Coríntios 3.16,17; 6.19,20; 1 Timóteo 4.8; 1Tessalonicenses 5.23
É obvio que devemos cuidar do corpo, todavia, a sociedade moderna, influenciada pela mídia, vem comentendo excessos nessa área. O que temos visto é um verdadeiro
“culto à forma física”, onde
os padrões estéticos ditados pelos meios de comunicação são cada vez mais altos e inatingíveis, levando milhares de pessoas às clínicas de cirurgias plásticas. Muitos, até mesmo crentes, na busca do corpo perfeito, deixam de comer ou se submetem às dietas da moda, sem orientação médica, prejudicando a saúde na maioria das vezes.
[...] Fomos criados para a glória de Deus (Is 43.7). Portanto, toda nossa essência deve ser conservada pura, santa e agradável a Deus (Rm 12.1,2). Controlar o estresse, fazer uma caminhada, manter uma dieta equilibrada é essencial para a saúde física e mental de qualquer ser humano, comprar o necessário,
fazer algumas aquisições primordiais para nossa existencia de forma digna, tudo isso é bom,
contudo busquemos evitar os excessos e não sejamos influenciados pela mídia, que apenas reproduz o que dita a lógica do sistema capitalista, que
a cada dia de forma persuasiva nos induz ao consumismo exarcerbado, seja uma simples coca cola, uma cirúrgia plástica desnecessária, uma cobertura de luxo, a um posicionamento arrogante, excludente, egoísta.