
“Willi Ossa era um artista que trabalhava a noite como um zelador de uma igreja no West Side, em Nova York, para sustentar a família, constituída de sua esposa e uma filha pequena. De nacionalidade alemã, Willi cresceu durante a guerra e se casou com uma jovem americana, filha de um oficial do exercito das forças de ocupação. Eu o conheci quando ainda era estudante de teologia e trabalhava na mesma igreja como co-pastor. Willi gostava de falar de religião e eu de artes. Assim nos dávamos muito bem e tínhamos longas conversas. Um dia ele decidiu pintar meu retrato. Todos os dias durante duas semanas, dediquei-lhe 30 minutos, como modelo. Willi nunca permitiu que eu visse o que ele estava pintando. Dia após dia, semana após semana, eu ficava ali imóvel, enquanto ele pintava.
Certo dia, sua mulher entrou no ateliê e exclamou: _Krank, Krank!
O pouco conhecimento que tinha sobre a língua alemã, me permitiu compreender o que ela estava dizendo sobre a obra que ele pintava.
_Doente! Você o pintou com a aparência de um cadáver!
Willi respondeu:
_Nicht krank, aber keine Gnade – ou seja – Ele não está doente: essa é a aparência que ele terá quando a compaixão se for, quando a misericórdia lhe for removida.
Algumas palavras naquele diálogo foram suficientes para entender o que ele pintava ao meu respeito, mesmo sem ver a tela pintada ainda. Para Willi todos os cristãos eram hipócritas. Em meu caso, ele fizera uma concessão parcial pelo bem de nossa amizade. Todos os cristãos que ele conhecera quando jovem haviam colaborado com os nazistas. Muitos deles haviam sido responsáveis pelos campos de concentração e pela cremação de seis milhões de judeus. Também tinham contribuído para tornar sua amada Alemanha num campo de guerra pagã. Na experiência de Willi, os cristãos eram institucionais em suas convicções. Sua tese era de que a igreja tinha destruído o espírito e a moralidade das pessoas, reduzindo-as a uma mera função dentro da burocracia, onde os rótulos assumiam o lugar das faces e rostos, e as regras eram mais importantes que os relacionamentos.
Era isso o que ele estava pintando, dia após dia, sem meu conhecimento: um alerta profético. Um quadro que retratava não minha aparência de então, mas um alerta profético. O olhar com que eu fui retratado é opaco e vazio. O rosto é esquelético e com ar pouco saudável. O artista nos mostra o que na maioria das vezes não conseguimos ver. Têm a habilidade de nos mostrar o que vemos somente de forma superficial e fragmentado. Por isso, costumo olhar para o quadro e depois para o espelho a fim de comparar as duas imagens.” (Pr. Peterson).